sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pequena Ode Mineral





Desordem na alma
que se atropela
sob esta carne
que transparece.
Desordem na alma
que de ti foge,vaga fumaça
que se dispersa,
informe nuvem
que de ti cresce
e cuja face
nem reconheces.
Tua alma foge
como cabelos,cunhas, humores,
palavras ditas que não se sabe
onde se perde
me impregnam a terra
com sua morte.
Tua alma escapa
como este corpo
solto no tempo
que nada impede.
Procura a ordem
que vês na pedra:nada se gasta
mas permanece.
Essa presença
que reconheces
não se devora
tudo em que cresce.
Nem mesmo cresce
pois permanece
fora do tempo
que não a mede,
pesado sólido
que ao fluido vence,que sempre ao fundo
das coisas desce.
Procura a ordem
desse silêncio
que imóvel fala:silêncio puro.
De pura espécie,voz de silêncio,mais do que a ausência
que as vozes ferem.


(João Cabral M Neto)

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