domingo, 10 de janeiro de 2010

Até um dia

Meu Pai com Lígia


Desde pequenos ouvimos falar em morte, na perda das pessoas queridas.

Uma vida inteira para ir se preparando. Mas um dia bate a porta ... e daí descobrimos que tudo que presenciamos e procuramos respostas nos livros, administramos os sentimentos, nada disso funciona. Não é a perda em sim, porque isso é fato, mas a saudade ... para isso não tem remédio, é dor latejante... Dizem que só o tempo cura.

Mas depois o lado racional toma conta, temos a certeza que foi melhor assim. Ninguém quer ver o sofrimento de quem ama. Do nosso sofrimento, ficou a certeza de dever cumprido, a experiência em ver outras pessoas em igual situação ou pior. Ficou a intensa vontade e determinação em ajudar o próximo. Ficaram ótimas lembranças.

Se soubesse plasmar, te enviaria um pássaro, flores de maio e muita música. Não sei se consigo.


Muitas coisas me fazem lembrar você... quando era criança e íamos ao “Bar Tudo Azul" para ouvir seresta, ficava encostada no canto da porta, voltava com o vestido sujo de graxa, minha mãe ficava louca, ela nunca entendeu.

Ah ... e quando eu me apaixonei pelo seu amigo Carlos (20 anos mais velho), foi a única vez que gostei de um homem mais velho.


Teve nosso primeiro natal em Avaré, quando o DER fez sua transferência,

lembro-me quando abriu uma embalagem que Tio Osmar enviou, era um disco de Taiguara (Viagem), colocou na vitrola, foi amor no primeiro tom. Anos mais tarde você me deu esse disco (grande presente).

Sei o quanto você queria que eu cantasse e tocasse, mas foi em vão me presentear com um violão aos seis anos, eu amo música, mas não nasci para transmitir “música”. Muitas coisas você queria e não consegui por opção... nadar, cantar, dirigir, casar ... Quanto ao lado artístico, isso Ana Luiza vai fazer por mim.


Muita coisa em 47 anos de convivência, alegrias, tristezas, decepções e algumas brigas.

O importante é que pudemos “viver” sempre juntos, mesmo com nossas diferenças de idéias.

Pude dar-lhe as coisas mais preciosas “Lígia e Ana Luiza”, razões de nossas vidas. Acredito que as meninas prolongaram seu tempo por aqui ...


Nunca sairá de meu pensamento Lígia entrando para casar, você esperando-a sentadinho. Creio que tenha sido um dos dias mais felizes de sua vida e da minha também.

Muitas coisas sempre vão te lembrar, principalmente as músicas... (Tom, Chico, Elis, Paulinho da Viola, Cartola e outros), o azul da Portela que te emocionava, você lendo jornal e vendo o futebol.


“Deixe-me ir, preciso andar,

Vou por aí a procurar

Rir prá não chorar...”

(Candeia)

Até um dia!

2 Comments:

Paulista no Pará said...

O post mais verdadeiro que já li, e a definição de uma grande história de amor. Flores de maio, um pássaro e muita música. Você consegue sim.
Grande beijo
Estela

Marco Antonio said...

Carmen querida!! Fui às lágrimas lendo esse belo texto, legado seu ao querido pai, que lhe deixou com a sensação de sair d campo antes do jogo da vida terminar. Mais motivos terei pra te amar e respeitar desse jeito.
Amo-te!!!
Bj Negro do "cumpade" Marco Pereira

 
Template by CriaRecria - Todos os direitos reservados!