sábado, 29 de agosto de 2009

Bolo de Fubá

Esse texto encontrei no "Caderno Ela" - Jornal Cruzeiro do Sul, publicado na edição de 31/07/2009. Isso me levou de volta para infância.
Nasci em dia de Santo Antônio, houve aniversário que foi festa junina, adoro essa festa ... Quadrilha ... até nessa dança eu erro!





Quando chega o mês de junho, é tempo de quermesse, de fartura, de dança, do colorido das bandeirolas e dos casamentos de mentira. Há que se comemorar os santos, Antônio, Pedro e João, o que requer cardápio adequado e farto: sanduíches de pernil ou calabresa, quentão, pipoca, batata-doce, canjica e bolo de fubá, que desfila o ano inteiro nas mesas brasileiras, não apenas durante as festas juninas.
O bolo de fubá pode ser feito em diversas versões: com erva-doce, com coco, cremoso, com queijo. Simples, para que se possa comê-lo com café, ou com uma fina camada de goiabada derretida, como cobertura. Batido no liquidificador, na batedeira ou na mão, duas xícaras de fubá, uma de trigo, três ovos, leite, duas colheres de margarina, um copo de açúcar, fermento. Dos ovos, separam-se as claras, batidas em neve e levemente misturadas à massa. E sempre há uma criança à espera, para lamber a tigela de massa crua.
Mas bom mesmo é aquele que se espatifa todo ao ser cortado e que derrete na boca, ao ser comido ainda quente. E quando quente, não custa nada se espalhar, sobre sua massa amarelinha, um pouco de manteiga, para observá-la derreter e umedecer a textura de farofa doce, daquelas que não permitem a ninguém, absolutamente, falar com a boca cheia.
A noite cai, salpicada de estrelas. A sanfona desfia alegre, e a quadrilha dança, ao lado da fogueira. O casamento começa, mas logo vem a forma de bolo, cuidadosamente cortado em pequenos losangos. E mal o casamento de brincadeira havia se iniciado, já termina, porque o falso padre dá a benção ao mesmo tempo em que mastiga, e não há chuva e nem ponte caída que impeçam a brejeirice da Mariazinha, de fitas e retalhos, que reparte aos risos um pedaço de bolo de fubá com o João, com quem fugiu para longe da festa. E enquanto riem de mãos dadas, ele assopra das tranças castanhas as migalhas que se espalharam pelo vestido e rolam agora pelo chão. E quando voltam para a festa, o pai da noiva, desconfiado, espia o genro e seu bigode de carvão, desmanchado com os restos de beijo e de fubá...


Míriam Cris Carlos, doutora em Comunicação, acha que comida é memória e é cultura (micriscarlos@uol.com.br)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ressurreição


Mas quem sabe se ela não estaria precisando morrer?
Pois há momentos em que a pessoa está precisando de uma pequena mortezinha e sem ao menos saber. Quanto a mim, substituo o ato da morte por um seu símbolo. Símbolo este que pode se resumir num profundo beijo, mas não na parede áspera e sim boca-a-boca na agonia do prazer que é morte. Eu que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição.

(Clarice Lispector)

sábado, 22 de agosto de 2009

Cóleras


Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio.
Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

(Memórias de Minhas Putas Tristes - Gabriel García Márquez)

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Não me esqueça


Já nem te lembras de mim, por certo,
porém, eu desperto, enviando-te os meus versos.
Repito tantas vezes, ouça:
Eu gosto tanto de ti, entretanto, preciso esquecer, não achas?
Devo te ver de modo diferente,
preciso tirar essa idéia maluca da cabeça!
Mas... mesmo que eu me acalme
por favor, não me esqueças!
(Cassandra Rios)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

O que está sempre alegre


Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim,

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!

(Charles Baudelaire)

sábado, 8 de agosto de 2009

Elegância

Conforme prometi, esse é Marcos Ferreira, amigo e profissional que fez as fotos de meu aniversário esse ano. Teria muitas coisas para falar, mas o resumo encontrei nesse texto de Martha Medeiros. Marcos é elegante!


Marcos Ferreira



Porque "chic" é ser elegante!
Muito mais que uma roupa bonita, que uma maquiagem perfeita...
Elegância é atitude!





Elegância

Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara:
a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam, nas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, nas pessoas que evitam assuntos constrangedores, porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber disso...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição.
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo.
É elegante a gentileza...
Atitudes gentis, falam mais que mil imagens.
Abrir a porta para alguém... é muito elegante.
Dar o lugar para alguém sentar... é muito elegante.
Sorrir sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Olhar nos olhos ao conversar é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza pela observação,mas tentar imita-la é improdutiva.
A saída é desenvolver a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que “com amigo não tem que ter estas frescuras”.
Educação enferruja por falta de uso. E, detalhe: não é frescura.

(Martha Medeiros)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Vida

Anne Geddes

Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.
Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

(Clarice Lispector)

 
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