sábado, 16 de julho de 2011

Onde você anda?


Onde você andou esse tempo todo, em que se esqueceu de me achar? Eu passei tanto tempo só olhando para as paredes, chorando com as letras do Chico, às vezes de dor, às vezes de inveja dos personagens. Quantas vezes troquei de lugar. E eu cria que aquilo era possível, mas faltava um engate, faltava um plus, faltava uma poesia. Gastei muito do meu tempo em amores possíveis, óbvios, meia-boca. Desperdicei tanto carinho em abraços passageiros, sem saber que num momento desses, eu tropeçaria na sua alegria incompleta, somada ao meu sorriso bobo e tudo era tão bobo, que caímos de quatro, que nem dois bobos. Ah, mas aí parecia bobeira, porque o amor é bobo. Até quando ele serve aos mais inteligentes, prenhes de teoria, racionais até.Nada, no amor todo mundo faz papel de bobo. Ai, meu Deus, como o amor é bobo. Aquele gesto mais simples, aquela mania mais elementar, aquela música, aquela música! O primeiro encontro, a comida preferida, a cor, o primeiro beijo, a tatuagem, a praia... O tempo conta de um jeito bobo, a espontaneidade do sorriso é de bobos. Os beijos, a língua que se pratica sussurrando, os olhares, ah tudo leva prá bobice. E ai, de quem não percebeu, esse conseguiu provar que não é bobo. É o quê?

(João Barboza)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Varal


Eu quero estender um varal
Onde prenda nos pregadores todas as minhas dores como roupas brancas, coloridas, jeans, calcinhas, cuecas, toalhas, meias, camisas, blusas.

Depois quero me afastar, como se aquela roupa jamais tivesse sido minha um dia.
Eu ainda perco tempo tentando me impor exercícios de compreensão sobre nós.

Só me machuco mais quando lembro da sua grande capacidade de me ferir.
E nisso você se supera.
Eu quero lavar minha boca com água sanitária se ousar pronunciar seu maldito nome.
Cansei, meu tempo é precioso, e é de quem o merece. Se não fosse feio, ia mandar você se fuder, babaca!


(João Barboza)

domingo, 10 de julho de 2011

Meu endereço, é em você



Eu não dou a ninguém, como dou a você, a ousadia de falar de mim...
Meu Endereço, é em você.
A você, eu dou todos os indultos, todas as permissões, todas as certidões, e eu tenho completa sensação de amor em você. Em cada toque me reconheço em cada gozo... me estremeço e isso findo, é como se você assinasse o prazer em meu corpo, naquelas balelas de ouvir sinos (ou buscá-los, onde quer que eles estejam) e arranhar estrelas.
Eu moro em você, como você mora em mim e isso não dá espaço para psicologias porque é.

Não há Freud, que nos reconheça, Lacan ou quejando que nos decifre.
Nós somos espumas de nós mesmos. Se nosso amor faltar um dia, vai deixar um buraco maior que a ação de um Tsunami, mas que aproveitem o buraco, enquanto nos resta essa saga de siameses que se devoram.
Que se guardem as teorias, nos basta à prática de alpinismo dos corpos, as tatuagens produzidas pelo nosso fogo, a água que produzimos pelo puro prazer, alimentados pela luxúria de um pecado original.
Eu te oficializo na hora em que grito seu nome, a partir daí é a remontagem, com interferência do tempo, esse vilão, que nos põe em outro plano.

Você não sabe do que nós somos capazes ? Duvidar, quem há de...

(João Barboza)

domingo, 3 de julho de 2011

Feito pra acabar


Quem me diz
Da estrada que não cabe onde termina
Da luz que cega quando te ilumina
Da pergunta que emudece o coração
Quantas são

As dores e alegrias de uma vida
Jogadas na explosão de tantas vidas
Vezes tudo que não cabe no querer
Vai saber

Se olhando bem no rosto do impossível
O véu, o vento o alvo invisível
Se desvenda o que nos une ainda assim
A gente é feito pra acabar
A gente é feito pra dizer

Que sim
A gente é feito pra caber
No mar
E isso nunca vai ter fim

(José Miguel Wisnik/Marcelo Jeneci/Paulo Neves)

sábado, 2 de julho de 2011

Meu modo



E é porque sempre fui de brigar muito,
meu modo é brigando.
É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder.
É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é.
(...) É também porque eu me ofendo à toa.
É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade,
pois sou muito teimosa.
(...) Talvez eu me ache delicada demais
apenas porque não cometi os meus crimes.
Só porque contive os meus crimes,
eu me acho de amor inocente.
Talvez eu tenha que chamar de “mundo”
esse meu modo de ser um pouco de tudo.

(Clarice Lispector- Felicidade Clandestina)

Acaso

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Amanhecimento

De tanta noite que dormi contigo
no sono acordado dos amores
de tudo que desembocamos em amanhecimento
a aurora acabou por virar processo.
Mesmo agora
quando nossos poentes se acumulam
quando nossos destinos se torturam
no acaso ocaso das escolhas
as ternas folhas roçam a dura parede.
Nossa sede se esconde
atrás do tronco da árvore
e geme muda de modo a
só nós ouvirmos.
Vai assim seguindo o desfile das tentativas de nãos
o pio de todas as asneiras
todas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha
Para um dia partirem em revoada.
Ainda que nos anoiteça
tem manhã nessa invernada
Violões, canções, invenções de alvorada...
Ninguém repara, nossa noite está acostumada.

(Elisa Lucinda)

domingo, 26 de junho de 2011

Não és os Outros



Não há-de te salvar o que deixaram
Escrito aqueles que o teu medo implora;
Não és os outros e encontras-te agora
No meio do labirinto que tramaram
Teus passos. Não te salva a agonia
De Jesus ou de Sócrates ou o forte
Siddharta de ouro que aceitou a morte
Naquele jardim, ao declinar o dia.
Também é pó cada palavra escrita
Por tua mão ou o verbo pronunciado
Pela boca. Não há pena no Fado
E a noite de Deus é infinita.
Tua matéria é o tempo, o incessante
Tempo. E és cada solitário instante.


(Não és os Outros - Jorge Luis Borges, in "A Moeda de Ferro"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Teus olhos



Teus olhos entristecem
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

(Fernando Pessoa, in "Cancioneiro")

domingo, 19 de junho de 2011

Pequenos Milagres

A gente nem percebe, mas pequenos milagres acontecem a toda hora.
O estímulo de uma palavra amiga, a cumplicidade de um sorriso,
a sutileza de um gesto...
Essas são pequenas coisas que podem mudar o nosso dia.
E sem sentir, a gente também acaba fazendo milagres por aí também.
Sabe aquele conselho, aquele toque no amigo que precisa de ajuda?
Pois é, parece bobagem, mas a gente pode transformar o humor de alguém
com um simples carinho.
E quantas vezes nós mesmos não experimentamos pequenos milagres?
O elogio inesperado de um colega no trabalho.
O telefonema do filho que está longe.
O resultado feliz de um exame de saúde.
O doce bom na sobremesa.
A folga pra ir à praia.
O caminho sem engarrafamento.
Pequenos milagres são porções de alegria
que a gente vai ganhando ou doando todos os dias.
São pedacinhos de cor que enfeitam a alma.
São trechos de música que acalmam o coração.
Por menores que sejam os resultados, por mais anônimos que sejam os sucessos...
Os pequenos milagres precisam existir
pra que a gente não esqueça nunca do milagre maior de estarmos vivos.


(Lena Gino)

sábado, 18 de junho de 2011

Lucidez


Eu gostaria muito de ter o direito, eu também,
de ser simples e muito fraca, de ser mulher...
Hoje cedo (...) desejei ardentemente ser a garota
que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena...
No entanto, não quero acreditar:
um ato de fé é o ato mais desesperado que existe
e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez.
Não quero mentir para mim mesma.

(Simone de Beauvoir)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Amor



O amor é feito de períodos muito curtos, prestações de nada. (...)
O amor é de momentos que não se espera onde vão ter,
onde surgem, é de segundos... segundos que gritam eternidade,
o amor é de general que repara por acaso na paisagem,
que inspeciona o que está frente aos olhos,
distraído, doses mínimas, as doses máximas matam,
rebentam mata-ratos, rebenta-bois, lá diz o povo.

(Ruben Andresen Leitão)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Desejo e Ironia

Foto by Rafael W Araújo


Movido contraditoriamente
por desejo e ironia
não disse mas soltou,
numa noite fria,
aparentemente desalmado;
- Te pego lá na esquina,
na palpitação da jugular,
com soro de verdade e meia,
bem na veia, e cimento armado
para o primeiro a andar.

Ao que ela teria contestado, não,
desconversado, na beira do andaime
ainda a descoberto: - Eu também,
preciso de alguém que só me ame.
Pura preguiça, não se movia nem um passo.
Bem se sabe que ali ela não presta.
E ficaram assim, por mais de hora,
a tomar chá, quase na borda,
olhos nos olhos, e quase testa a testa.



(Ana Cristina César)

domingo, 12 de junho de 2011

Ora até que enfim

Ora até que enfim,
perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exatamente na cabeça.
Meu coração estourou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...
Graças a Deus que estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo quanto fui se me atou aos pés,
Como a sarapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!
Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução.
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão
de cada assunto resolvido em vários
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que,
se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho nem fim nem vida...

(Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa)

Porque


Amor meu, minhas penas, meu delírio,
Aonde quer que vás, irá contigo
Meu corpo, mais que um corpo, irá um'alma,
Sabendo embora ser perdido intento
O de cingir-te forte de tal modo
Que, desde então se misturando as partes,
Resultaria o mais perfeito andrógino
Nunca citado em lendas e cimélios
Amor meu, punhal meu, fera miragem
Consubstanciada em vulto feminino,
Por que não me libertas do teu jugo,
Por que não me convertes em rochedo,
Por que não me eliminas do sistema
Dos humanos prostrados, miseráveis,
Por que preferes doer-me como chaga
E fazer dessa chaga meu prazer?


(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Sinto

Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.


Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

(Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos' Tradução de Oscar Mendes)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mora um no outro



Fechei os olhos para não te ver
e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados
desceram lágrimas que não enxuguei,
e da minha boca fechada
nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.


(Mário Quintana)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Leitor


Nós temos sempre necessidade de pertencer à alguma coisa; e a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma. Mas como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, à língua com que se comunica, e neste caso, a língua com que se escreve? Se o leitor, o leitor de livros; aquele que gosta de ler, não se limitar àquilo que se faz agora, se ele andar pra trás e começar do princípio, e poder ler os primitivos e os grandes cronistas e depois os grandes poetas, a língua passa a ser algo mais que um mero instrumento de comunicação, transformando-se numa mina inesgotável de beleza e valor.

(José Saramago)

terça-feira, 31 de maio de 2011

Arde e flameja


Ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente.
O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar.
Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.


(in "Onde estivestes de noite" - Clarice Lispector)

sábado, 28 de maio de 2011

Eu quero o delírio!


Apesar de todos os medos, escolho a ousadia.
Apesar dos ferros, construo a dura liberdade.
Prefiro a loucura à realidade, e um par de asas tortas aos limites da comprovação e da segurança.
Eu, (...), sou assim.
Pelo menos assim quero fazer: a que explode o ponto e arqueia a linha, e traça o contorno que ela mesma há de romper.
A máscara do Arlequim não serve apenas para o proteger quando espreita a vida, mas concede-lhe o espaço de a reinventar.
Desculpem, mas preciso lhes dizer:
Eu quero o delírio!

(Lya Luft)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Coisas leves



No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

(Mário Quintana)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Primeiro capítulo


Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente geminiana vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida. Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final. Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.

(Caio Fernando Abreu)

terça-feira, 24 de maio de 2011

Inverno



Inverno
É tudo o que sinto
Viver
É sucinto

(Paulo Leminski)

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Exausta


Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes. (Exausto)


(Adélia Prado)

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Robert Johnson 100 anos

Quem sabe um dia




Quem sabe um dia
Quem sabe um seremos
Quem sabe um viveremos
Quem sabe um morreremos!
Quem é que
Quem é macho
Quem é fêmea
Quem é humano, apenas!
Sabe amar
Sabe de mim e de si
Sabe de nós
Sabe ser um!
Um dia
Um mês
Um ano
Uma vida!
Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois

Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

(Mário Quintana)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Despertar é preciso



Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma
Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
Na segunda noite,
Já não se escondem; pisam as flores,
matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada.

(Vladimir Maiakóvski)

domingo, 8 de maio de 2011

Confissão


Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém
Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta
Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios
Acho-me relativamente feliz...
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!

(Mário Quintana)

sábado, 7 de maio de 2011

Viver



Tem que ligar suas antenas
Captar melhor frequência
Dimensões e vibrações
Que no ar se sente
Tem, tem que usar cinco sentidos
Pra chegar a um relativo
Significado justo simples coerente
O mundo é bola rola rola
A gente sai correndo atrás
Passageiro desse trem
O tempo brinca de seguir
Leio aqui no seu futuro
Uma estrela intensa clareando
Viver, viver
Eu pessoalmente me interesso
Pelo destino desse trem
O tempo mente muito mente
Fazendo crer que ele seguiu
Leio aqui no seu passado
Uma estrela intensa clareando
Viver, viver, viver
O amor é que alimenta a força de viver
O amor é que alimenta
A força de viver, viver
O amor é que alimenta
A força de viver
O amor é que alimenta


(Ricardo Villa)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O que é Amar




É só olhar, depois sorrir, depois gostar
Você olhou, você sorriu, me fez gostar
Quis controlar meu coração
Mas foi tão grande a emoção
De sua boca ouvi dizer "quero você"
Quis responder, quis lhe abraçar
Tudo falhou
Porém você me segurou e me beijou
Agora eu posso argumentar
Se perguntarem o que é amar

(Johnny Alf)


domingo, 1 de maio de 2011

Dedução



Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme, fiel e verdadeiramente.

(Vladimir Maiakóvski)

sábado, 30 de abril de 2011

O que você é ... ninguém pode ser!




As pessoas mais felizes,
não têm as melhores coisas
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos...
Pense nisso!
O que você tem,
todo mundo pode ter,
Mas o que você é...
Ninguém pode ser.


(Clarice Lispector)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Bússola




Eu não quero um amor comportado,
desses sem nenhum sobressalto,
calmo como as noites sem vento.
Eu quero o arranque desses que não pedem licença...
Invadem os compartimentos.
E nos põe de quatro, babando feito um animal.
Desses que a gente critica e que nos amedronta nas suas...
possibilidades de felicidade blasé.
Eu quero Noites de vendaval.
Ah, eu quero o mistério
dessa lua, que trouxeram pra mim.
Me deixa assim carne crua,temperada de suores, temperaturas e sais.
Se ele muda como os eflúvios, não me importo com suas variações.
E se lambo todos os seus sabores, ainda , que depois amargue, é variação. Enquanto isso, arquivo as conveniências e racionalidades.
Sou instinto. Animalidade. Combustão.
Entrega em domicílio ou no improvável.
A velocidade, às vezes, suprime um eu te amo careta.
A única coincidência é quando acaba,
que ainda que eu me perca, o amor ainda assim, é bússola.

(João Barboza)
www.joaobarboza.blogspot.com

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Verônica Sabino - Todo Sentimento



Chico Buarque/Cristovão Bastos

Paciência ou Maturidade?




‎Porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloquentes como "sempre" ou "nunca".

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas.

Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar".

Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.


(Caio Fernando Abreu)

domingo, 24 de abril de 2011

Cristal Lilás





Nunca mais
Quero saber de outra paixão fugaz
Que essas paixões são ilusões banais
São pedras falsas, bibelôs, vitrais
São iguais a um licoroso vinho embriagador...
Que por trás deixa nos lábios um sabor
Que quem bebeu não bebe nunca mais
Amor inútil que não satisfaz
Não apraz amor tão fútil que só tem cartaz
Amor fugaz é como um frasco de cristal lilás
Belo, mas frágil, que se cai no chão
Se quebra e se desfaz
Sou capaz de não amar
Do que amar um amor a mais
Que faz de mal o que de bem não faz
Que quer o mar, mal põe os pés no cais
Nunca mais vou derramar as minhas lágrimas
Que não há dor que desconsagre mais
Do que uma dor de amor fugaz


(Maurício Carrilho e Paulo C. Pinheiro)

sábado, 23 de abril de 2011




Normalmente resistimos enquanto o coração resseca,
os olhos endurecem, as deliberações se frustram.
Desmascaramos a farsa para continuarmos a existir no meio dela.
De que nos tem servido essa lucidez
senão para chamar barra cada vez mais pesada?
Batalhamos a paz, a divina indiferença.
Pra termos sede de amor e de beleza.

(Caio Fernando Abreu)


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Luz de fotografia é pleonasmo



Eu tava contando os azulejos do banheiro, observando os vértices, somando ângulos dos cantos até a soleira. Tenho a sensação, que tua ausência se expande ao infinito. Entra uma luz bonita da janela, alaranjada pelo fim da tarde, o sol tá lindo, próprio pra fotografia, mas falta você, para o comentário.

Eu mexo numa gaveta desavisada, que guardava uma fotografia nossa de um acampamento no litoral norte. Como éramos felizes. A porra dessa foto, já me estragou o dia. Chovia, e a gente não conseguia montar a barraca. Veio um monte de gente nos ajudar e terminamos a montagem molhadinhos, depois dentro da barraca a gente comemorou tanta molecagem. Essas lembranças de sorrisos e gozos me perseguem. Parece que a trouxa de roupas da sua partida, se agigantou e me tira espaço de olhar pra outro caminho. Não olho, nem pra mim. Nesse momento, eu tento ler o horóscopo; mentalmente, xingo o autor, que disse que nossos signos combinavam, sem combinar com o destino. O que é que eu faço amanhã? Diz a canção da Marrom, carregada de dor e mágoa. Vou colocar um anúncio pra vender a minha dor. Eu sei que eu posso contar com requintes e quem sabe alguém se interesse.


Tem um quadro do Chaplin, o Menino e o Vagabundo, que eu vou quebrar. Ele me incomoda. A gente o comprou na Praça Roosevelt, em uma feira de arte, que não existe mais.Tenho a impressão, que o menino zomba de mim e o vagabundo nada diz. É como se a dor, fosse a quebra do vidro, mas o vidraceiro-tempo nunca aparecesse no momento certo, para trocá-las. Portas e janelas sem vidro, doloridas.

Eu nem me importo mais com se essa luz de fotografia na Praça Roosevelt. Ultimamente, tenho dado mais importância à violência sofrida pelo poeta.

O amor tem a ver com a praça cheia de pombos.

(João Barboza - www.joaobarboza.blogspot.com)

 
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