quinta-feira, 29 de julho de 2010

Perfume Exótico

Sakountala - Camille Claudel



De olhos fechados, quando, alta noite, no outono,
respiro o cheiro bom dos teus seios fogosos,
Vejo entreabrir-se além de cenários deleitosos
Cintilando o ardor de um sol morno de sono:
Uma ilha preguiçosa e molenga e sem dono
Em que há árvores ideais e frutos saborosos;
Homens de corpos nus, finos e vigorosos,
Mulheres cujo olhar tem franqueza e abandono.
Guiado por teu perfume às paragens mais belas
Vejo um porto arquejar de mastros e velas
Ainda tontos talvez da vaga alta que ondula
Enquanto um verde aroma dos tamarineiros,
Que passeia pelo ar que aspiro com gula,
Se mistura em minha alma à voz dos marinheiros.

(Charles Baudelaire)

domingo, 11 de julho de 2010

Poema à Boca Aberta

Alguns dias em silêncio, em férias e confinamento.
Tempo para pensar na vida e muitas mudanças.
Como diz Estela: ando "sem frases de efeito".
Hoje tirei o dia para relembrar coisas boas, matei saudades, encontrei um vídeo da abertura do filme " 007 O Espião que me Amava " (um luxo e linda música na voz de Carly Simon, na época tinha 15 anos e muitos sonhos).
Nessa busca encontrei outros vídeos e músicas ... meu coração vai explodir.
Meu mal: saudade. Outro mal: ausência. Não dá para entender certas coisas, não resolve tentar encontrar explicações e justificativas. Somos egoístas (alguns mais), quando se trata de ser "feliz", passamos por cima de tudo e todos (estrago total). Não acredito em felicidade criada em cima da tristeza de outra pessoa. Não consigo engolir isso. Mas, aceito e respeito.
Essa foto de Marilyn é um arraso, quero fazer uma parecida (olhe bem Edeson Souza) e José Saramago é bom em todos os momentos.





Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.


Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.


Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.


(José Saramago)

 
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