domingo, 27 de fevereiro de 2011

Luz de fotografia é pleonasmo



Eu tava contando os azulejos do banheiro, observando os vértices, somando ângulos dos cantos até a soleira. Tenho a sensação, que tua ausência se expande ao infinito. Entra uma luz bonita da janela, alaranjada pelo fim da tarde, o sol tá lindo, próprio pra fotografia, mas falta você, para o comentário.

Eu mexo numa gaveta desavisada, que guardava uma fotografia nossa de um acampamento no litoral norte. Como éramos felizes. A porra dessa foto, já me estragou o dia. Chovia, e a gente não conseguia montar a barraca. Veio um monte de gente nos ajudar e terminamos a montagem molhadinhos, depois dentro da barraca a gente comemorou tanta molecagem. Essas lembranças de sorrisos e gozos me perseguem. Parece que a trouxa de roupas da sua partida, se agigantou e me tira espaço de olhar pra outro caminho. Não olho, nem pra mim. Nesse momento, eu tento ler o horóscopo; mentalmente, xingo o autor, que disse que nossos signos combinavam, sem combinar com o destino. O que é que eu faço amanhã? Diz a canção da Marrom, carregada de dor e mágoa. Vou colocar um anúncio pra vender a minha dor. Eu sei que eu posso contar com requintes e quem sabe alguém se interesse.


Tem um quadro do Chaplin, o Menino e o Vagabundo, que eu vou quebrar. Ele me incomoda. A gente o comprou na Praça Roosevelt, em uma feira de arte, que não existe mais.Tenho a impressão, que o menino zomba de mim e o vagabundo nada diz. É como se a dor, fosse a quebra do vidro, mas o vidraceiro-tempo nunca aparecesse no momento certo, para trocá-las. Portas e janelas sem vidro, doloridas.

Eu nem me importo mais com se essa luz de fotografia na Praça Roosevelt. Ultimamente, tenho dado mais importância à violência sofrida pelo poeta.

O amor tem a ver com a praça cheia de pombos.

(João Barboza - www.joaobarboza.blogspot.com)

 
Template by CriaRecria - Todos os direitos reservados!