...Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem “noir”.
Mas isso é filme, ele não.
Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi.
Vai olhar direto para mim.
Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo.
É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite.
Não por você, por outros como você.
Pra ele, me guardo.
Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor.
Cuidado, comigo: um dia encontro.
(Trecho do conto "Dama da Noite" Caio Fernando Abreu)
PS.: sem imagem esse post: ele ainda não apareceu ...
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Um dia encontro
Postado por La Vie às 13:43 0 comentários
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Cerejeiras em Flor
Um dos melhores filme que vi. Ganhei o DVD do Marco, ele disse que quando viu lembrou de nós, devido ao nosso sofrimento com a doença e a partida de meu Pai.
"Há filmes marcantes e outros que passam. A maioria deles é feita para entreter, mas alguns são especiais, responsáveis por tocar, além dos olhos, a alma e o coração.
Caso do drama Hanami — "Cerejeiras em Flor " Miguel Barbieri Jr
A trama começa de forma bastante dramática. Trudi (a magnífica Hannelore Elsner) recebe uma estarrecedora notícia: seu marido, Rudi (Elmar Wepper), tem pouco tempo de vida. Aconselhada pelos médicos, ela o convence a sair da Bavária, onde moram num vilarejo, e espairecer numa visita aos filhos em Berlim. Omite dele o trágico destino. O sessentão Rudi, sistemático e de poucas palavras, ainda dá conta de seu emprego burocrático e não abre mão do cotidiano pacato, simples e regrado.
Rudi parte para Tóquio. Lá, o filho o recebe com impaciência e indiferença.
Ele resiste e sempre com o suéter de sua mulher sob o casaco, "a" leva para passear e ver as espetaculares cerejeiras em flor. No auge da depressão ele conhece Yu (Aya Irizuki), uma garota solitária, que mora numa tenda e dança no parque. Juntos eles vão ver o Monte Fuji. Rudi redescobrirá o prazer das pequenas coisas ao lado de uma jovem dançarina de butô.
Achei lindo quando encontra a dançarina. Ela dança com um telefone cor de rosa (era da mãe que faleceu), diz que "dança com os mortos" e dessa forma estará sempre em contato com a mãe, porque ela não desgrudava do seu telefone ... cada gesto ... grande intensidade!
A busca de Rudi pela essência das coisas que sua mulher amava, como a dança, o Japão, é ingênua demais. Ou talvez, nós vivamos num mundo em que não haja mais lugar para tal ingenuidade. Ela simplesmente é incompatível com o cinismo dos tempos modernos
Fonte: Cíntia Bertolino
Postado por La Vie às 12:44 0 comentários
sábado, 21 de agosto de 2010
Saudade
Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(Clarice Lispector)
Postado por La Vie às 19:50 0 comentários
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
O nada não ilumina
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a
desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances
que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa
maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou
melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia",quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo atrai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor,
sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência.
Porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
(L F Veríssimo)
Postado por La Vie às 13:39 0 comentários
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Como você me dói de vez em quando
...Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor.
Eu me comovia vendo você, se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus como você me doía de vez em quando...
Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça,então os meus braços não vão ser suficientes pra abraçar você, e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa, que eu vou ficar calada um tempo enorme, só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando:
meu Deus como você me dói de vez em quando...
(Caio Fernando Abreu)
Postado por La Vie às 14:02 0 comentários
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